"E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. " (João, 13:32) De ingratidão, todos, neste mundo, mais ou menos se queixam. Comumente os pais, com relação à atitude dos filhos, experimentam o pungir acerbo desse espinho, embora nada deixem transparecer que o denuncie. No entanto, a ingratidão, como, aliás, o mal sob qualquer modalidade, é uma nuvem fugaz. Em realidade, a ingratidão não existe; o que de fato se dá é maior ou menor delonga no reconhecimento do benefício recebido. Quando o indivíduo recebe o bem, e de pronto se mostra reconhecido, dizemos que ele é grato. Quando, porém, o recebe e não oferece demonstração alguma de reconhecimento, menosprezando mesmo o benfeitor, dizemos que tal pessoa é ingrata. Erramos com tal critério. Somos apressados. Julgamos que o reconhecimento não existe, porque deixou de se manifestar imediatamente. Mas, quem nos afirma que se não manifestará mais tarde? Manifestar-se-á fatalmente, porque tal importa numa consequência de evolução, lei eterna e imutável que rege a Criação debaixo de todos os aspectos, estados, condições.
A ausência de reconhecimento pelos benefícios recebidos é atestado eloquente de inferioridade moral. É prova de que o beneficiado não se acha no mesmo nível moral do benfeitor: daí a falta de correspondência, de reciprocidade no afeto e na dedicação. Aqueles a quem fazemos o bem, ficam sendo nossos, ainda que disso não se apercebam; e, quanto mais pura tenha sido a nossa intenção, e maior o esforço empregado, mais nossos eles se tornarão. Não importa o tempo para a consecução das leis de Deus. Os dias da ingratidão passam como a sombra. Os ingratos deixarão de o ser desde o momento em que as cordas de seus sentimentos comecem a vibrar, tangidas pela força incoercível de uma consciência acordada. E que à noite da consciência sucede a aurora, quem ousará contestar? O acerto deste enunciado ressalta destas palavras proferidas sentenciosamente pelo maior expoente da moral divina: "E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim. " Jesus reportava-se à sua crucificação, cujo objeto, à medida que fosse compreendido, iria atraindo a ele os corações daqueles por quem se devotara, promovendo-lhes o sumo bem à custa dos mais ingentes sacrifícios.